Casos de racismo são frequentes e vítimas não denunciam, segundo militante



PICOS - Em algum momento da sua vida, você caro leitor já deve ter tomado conhecimento sobre casos de violência racial, sejam eles verbais e/ou agressões físicas. Muitas vezes, imagina-se que isto não ocorra em nossos “quintais”. Daí a surpresa quando casos como estes tornam-se públicos e percebemos que ocorreram no mesmo lugar em que residimos. 

Na última semana, este assunto se tornou debate na sociedade picoense quando veio à tona a notícia de agressão física sofrida pelo jovem Mateus Martins, de apenas 20 anos, que por ser negro não poderia usar um tênis caro e foi espancado. O jovem teve o nariz fraturado. O caso aconteceu na cidade de Dom Expedito Lopes.

Francisco das Chagas, diretor do Grupo Cultural Adimó - Foto: Jesika Mayara


A reportagem do Jornal O Povo entrevistou o militante do movimento negro picoense e diretor do Grupo Cultural Adimó, Francisco das Chagas, o Mano Chagas. O mesmo comentou sobre a ocorrência deste tipo de violência na ‘Capital do Mel’, e como alguns destes casos vem sendo tratados pela Polícia e pelas próprias vítimas. Segundo ele, o que tem ocorrido é uma desqualificação do termo discriminação racial para injúria racial, que é apenas um atenuante e não configura o crime em sua totalidade.

“Muitas vezes as pessoas no calor da emoção e sem muita informação acabam sendo convencidas de que a discriminação racial passa a ser apenas injúria racial no momento de uma denúncia. O problema é que quando encarado como injúria o agressor não é preso, e nem configura o crime”, explicou Mano Chagas.

“Na emoção, as pessoas procuram meios legais, mas depois sempre ocorre um esfriamento”

O militante ainda ressaltou que na região de Picos várias pessoas já sofreram discriminação racial, e o próprio já acompanhou dois casos. Em um dos casos, no primeiro momento o delegado titular não quis registrar como racismo, e pouco tempo depois a vítima retirou a denúncia.

O segundo caso mais recente envolveu uma jovem estudante de Direito que foi vítima de discriminação por parte de um grupo de colegas. “Foram dadas todas as informações necessárias a jovem, como ela deveria proceder no caso e logo também desistiu de dar andamento no processo”, relatou Mano Chagas.

A postura da Polícia no atendimento aos casos

Para Mano Chagas, o posicionamento da Polícia no atendimento aos casos de discriminação racial não se trata de negligência, mas falta de preparo e informação para lidar com o crime em específico. 

“A maioria dos policiais não estão preparados para lidar com os crimes de discriminação racial, e o que tem ocorrido são apenas o registro de atenuantes como a injúria. Isto é bastante lamentável, pois os verdadeiros agressores acabam não sendo punidos”, comentou o militante.

O militante ainda ressaltou que o movimento negro tem oferecido apoio e assistência às vítimas, mas na grande maioria dos casos não chega nem até a metade do fio da meada, pois as vítimas não dão andamento aos processos policiais.






Postar um comentário




PUBLICIDADE