Contradição: conheça a história de um "anônimo popular”


Reportagem Especial


Loiola é motorista de ônibus há 31 anos atua no transporte coletivo em Picos.



A recomendação: “Não converse com o motorista”, estampada nos ônibus, certamente diminui as relações interpessoais entre passageiros e motoristas, fazendo com que estes se tornem populares e anônimos ao mesmo tempo. Mas, quem é visto é lembrado. 



E quem utiliza transporte coletivo em Picos certamente conhece, (pelo menos de vista), os motoristas da RR, a única empresa de ônibus da cidade de Picos.
Na semana passada ao utilizar o ônibus observei que uma senhora chamara o motorista pelo nome e pedira que este parasse em um lugar especifico ao invés do ponto de ônibus. O motorista atendeu ao pedido e seguiu viajem. Minutos depois outro passageiro exclamou: “motorista vou ficar na passarela”.

Percebi desta vez que este passageiro, como a maioria dos que utilizam o transporte coletivo, não conhecia o nome do motorista chamando-o apenas de “motorista” mesmo. Resolvi conhecer de perto a história do “senhor motorista” e antes de sair do ônibus me apresentei e perguntei qual era o seu nome, depois disso marquei uma entrevista com o até então desconhecido senhor Loiola.
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A entrevista

No dia da entrevista quando cheguei à casa do senhor Loiola ele ainda estava dormindo, pois trabalhara até tarde na noite anterior. Enquanto esperava ele acordar conheci a vizinhança e me informei um pouco mais sobre aquele motorista de aparência amistosa e olhar distante.

Na vizinhança todos o conhecem e gostam dele, definem-o como um “sujeito calmo que gosta de futebol e que trabalha dirigindo ônibus”. Algo curioso foi o fato de que quando eu perguntava se ele estava em casa, já que a janelinha da porta estava aberta, todos indagavam antes: a moto esta dentro de casa?  Eu respondia sim, está; então os vizinhos diziam, pois ele está em casa.

A moto parecia algo inerente ao senhor Loiola, pois sem exceção, todos diziam a mesma coisa: se a moto está em casa ele também está, era como se ele não pudesse dar um passo sem ela. Cerca de 07:30h ele acordou e  saindo de casa, (nem precisa dizer que era de moto), eu o abordei e me apresentei novamente e perguntei se poderíamos conversar naquele momento, ele pediu para que entrássemos em sua casa.

Só então descobri que o “senhor motorista” se chama José Loiola Santos, tem 53 anos e é natural de Elesbão Veloso, há 40 anos reside em Picos e há 31 é motorista de ônibus, detalhe, motorista urbano, atuação totalmente na cidade modelo nunca trabalhou em outra cidade ou com transporte que não fosse o coletivo.

Loiola gosta da profissão e começou a exercê-la bem cedo, aos 19 anos de idade na empresa TAL – Transportes Adriana Limitada –, passou por varias empresas ao longo da vida e desde junho de 2008 trabalha na empresa RR. Loiola trabalha em entorno de sete horas e meia por dia. Entra às 13:30h e sai em media às 22:30,  “se passar do horário a empresa recompensa no outro dia, essa é melhor empresa que já trabalhei até hoje” apontou o motorista.

Por está há muito tempo na profissão é conhecido e respeitado por muitos passageiros, afirmando: “algumas pessoas me cumprimentam outras não, a maioria dos passageiros é estudante, são educados e são eles que seguram a empresa, no período de férias o movimento cai 60%”.

Sobre os riscos de se transportar vidas Loiola diz que o trânsito de picos é caótico, o mais complicado do Piauí e por esse fato o maior desafio da profissão é o risco de acidentes, pois assaltos são mais difíceis de acontecer. Atenção é mais no transito que nos passageiros. Contudo há casos que estes merecem mais atenção, por exemplo: “ao entrar uma grávida no ônibus eu peço para que os mais novos sedão o lugar para ela – tenho muito cuidado com as grávidas e os idosos” enfatiza.





O trânsito de picos é caótico, o mais complicado do Piauí".

 (Loiola)











De acordo com Loiola os idosos usam muito o transporte coletivo. “eles gostam de mim, e querem que eu passe próximo a casa deles, o certo é parar apenas no ponto mais como são idosos eu faço essa gentileza” orgulha-se.

“Eu gosto é do ônibus grande”, diz Loiola em relação a dirigir o microônibus “o pequeno não dispõe de cobrador e ao final do dia tenho que fechar o caixa, e como estudei pouco às vezes tenho dificuldades”.


Após conhecer a rotina do motorista pedi-lhe para que me contasse fatos marcantes ao longo desses 31 anos de batente. No inicio ele se mostrou acanhado dizendo que não tinha muito o que contar, mais aos poucos foi se soltando e ganhando confiança e me contou a história de  um dia que fora assaltado.
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O assalto ao coletivo - por Loiola Santos



Em 2002 trabalhando na empresa TRANSROCHA, era dia de jogo da SEP e quando eu vinha perto da parada da igrejinha vi que tinha um cara conversando com um moto táxi. Depois que passei fiquei olhando pelo retrovisor e então ele deu com a mão, nisso eu parei e ele entrou pagou e seguimos viajem.

No barro Canduru, próximo ao 3º BEC (Batalhão de Engenharia e Construção), esse rapaz pediu que eu parasse, ele passou a catraca mais não desceu do ônibus, ficou de pé enfrente ao cobrador e sacando a arma anunciou o assalto que parecia ser um ‘38’, ele chegou a engatilhar e colocou a arma na cabeça do cobrador, enquanto isso eu estava olhando só pelo retrovisor interno, quando tentei virar para olhar direto ele apontou a arma em minha direção e disse para que eu virasse.

O assalto foi rápido, cerca de três minutos. No momento do assalto havia quatro passageiros no ônibus. As mulheres choravam, ficaram desesperadas. O assaltante ainda levou R$ 180,00 e muitos vales estudantis; depois do assalto saiu nadando normalmente como se nada tivesse acontecido e mandando vai, vai.

No momento do assalto não tive não senti medo, mas quando ele me mandou sair e seguir viagem, o sistema nervoso ficou abalado e quase apago o ônibus, se tivesse apagado nem sei o que poderia ter acontecido.

Após o assalto fui deixar os passageiros e pedi para que um deles pudesse vir comprovar o roubo e fazermos o B O, a assaltante nunca foi pego.

Conhecemos parte da história do senhor Loiola Santos, que por mais anônimo que possa ser é também muito popular e querido por todos aqueles que o conhece e utilizam o transporte coletivo. -nos aprender a respeitar esses profissionais, que desempenham sua função de forma digna e responsável, para que possamos ir e vir de um lado a outro da cidade com segurança e bem estar.

O fato de não conhecer o condutor do coletivo não justifica a falta de educação e desrespeito que às vezes estes profissionais são submetidos. E ao entrar no ônibus cumprimente o motorista ao sair agradeça, educação nunca é de mais.



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