Quando o talento passa despercebido

Conheça a estória dos músicos oeirenses Vivaldo Simão. Hytalo Rafael e Luciana.


Especial para o CN1



Paula Carvalho
paullah_emanuelle@hotmail.com


Oeiras, a primeira capital do Piauí, é conhecida pela tradicional fé de seu povo, pelos poetas e músicos mortificados e pelos inúmeros pontos turísticos, sacramentando a cultura original do estado.

As pessoas lêem e ouvem todos os dias coisas sobre os escritores O.G. Rêgo de Carvalho e José Expedito Rego. Outros preferem ouvir a boa valsa de Possidônio Queiróz. Uns fazem questão de relembrar que Oeiras já teve grandes poetas e músicos, e que hoje não tem mais. A bem da verdade é que Oeiras continua procriando filhos talentosos como antes, só que o talento quase sempre passa despercebido pelos olhos das pessoas.

Grande exemplo disso são os músicos Vivaldo Simão e Hytalo Rafael, e a cantora Luciana. Membros da nova geração, eles reafirmam o potencial da nova safra de artistas da terra. 
                     IMAGEM: Divulgação
                Vivaldo Simão em apresentação com o músico Vavá Ribeiro no último festival

Vivaldo Simão, de 26 anos, se considera um autodidata. Nunca estudou música e não sabe ler sequer uma partitura. Aprendeu a tocar, como ele mesmo diz, “malinando” num violão velho. Além do dom de tocar, Vivaldo começou a cantar em 2003, em shows de calouros. Depois de descobrir a vocação, o artista montou com alguns amigos a “Geração Perdida”, primeira banda de rock de Oeiras.

Até ai os oeirenses estavam acostumados com o velho forró e a clássica MPB no Café Oeiras. Os ouvidos se tornaram mais ecléticos com a perpetuação do rock, porém a aceitação não foi unânime. A formação da banda durou apenas quatro anos e a partir daí Vivaldo começou sua carreira solo com shows acústicos e com um repertório que ia do MPB ao rock.

                                          IMAGEM:Welliton Mariano
Hytalo em recente apresentação no VI Festival de Cultura de Oeiras
Com apenas 21 anos, Hytalo Rafael começou sua carreira aos 14. Antes mesmo de começar a tocar, Hytalo se matriculou na Escola de Música “Professor Possidônio Queiróz”. Lá aprendeu o básico com as aulas de violão, e em dezembro de 2003 já estava tocando no coral da igreja.

Não voltei mais à escola como aluno, pois todos os anos se ensinavam as mesmas coisas. Foi por isso que nessa mesma época fiz o concurso para aprender a tocar bandolim”, explicou Hytalo. O músico fez provas teóricas e práticas e conseguiu ficar classificado em 4° lugar. Eram somente 7 vagas.

Hytalo se apresentou com os “Bandolins de Oeiras” (grupo tradicional que se apresentou no programa do Jô, da Rede Globo) em 2004 no primeiro Festival de Cultura de Oeiras. Em 2005 o artista começou a tocar músicas populares em parceria com a cantora Luciana, que também é sua tia.
                                          IMAGEM:Welliton Mariano
Luciana e banda no VI Festival de Cultura de Oeiras


Luciana recorda o antigo medo de cantar. “Eu tremia quando tinha que segurar um microfone, era muito tímida”. A cantora começou a cantar aos 9 anos na igreja. Ela relembra que foi uma fase muito importante, pois descobriu sua vocação e perdeu a timidez que fazia parte se seu comportamento.

Depois de descoberto o talento de Luciana, ela começou a participar de shows de calouros e fez pequenas participações em shows de bandas de forró. Em 2003, Luciana começou a fazer seus próprios shows em parceria com o cantor Emerson Moreno. A parceria com o sobrinho Hytalo Rafael veio através de muita luta para conseguir uma vaga no II Festival de Cultura.

A artista conseguiu o que queria e  não esqueceu da oportunidade que o secretário de cultura da cidade, na época Stefano Ferreira, quando lhe confiou uma hora de show no festival. 

Quando perguntei a Luciana na entrevista se o fato de não fazer sucesso há incomodava, ela respondeu sorrindo: “Não. O que me incomoda é que mesmo aparecendo tanto a cidade ainda não me conhece”. A cantora reconhece que a cidade ainda não está preparada para a MPB (seu estilo musical) e que o que predomina mesmo é o forró.


Além de Vivaldo, Hytalo e Luciana, Oeiras conta com o talento de Vanúsia Marques, Karine Vieira e Eduardo Sousa. A fronteira para o sucesso parece ser ainda maior se considerarmos o aspecto territorial. Para Vivaldo Simão, o Piauí é um estado marginalizado.

“Todos os estados nordestinos tem representantes de peso quando o assunto é música, o Piauí não tem. Simplesmente não temos um, e isso não tem haver com qualidade. É como se vivêssemos isolados numa ilha”, afirmou o cantor.
Vivaldo ressalta que o que lhe interessa não é ficar famoso e sim ter o reconhecimento do seu trabalho. “Existe uma diferença entre fama e sucesso. Não quero a histeria das fãs, quero sucesso, e isso é o reconhecimento por um trabalho bem feito”, explica.

Já Hytalo Rafael só tem a agradecer ao público. “De onde vim sei que as pessoas me conhecem. O fato de não fazer sucesso não me incomoda, mas também não significa que eu não quero chegar lá”, comenta.

Recentemente Hytalo participou do prêmio “Musique” do jornal “O Estado de S.Paulo”. Esse concurso era destinado ao público em geral e consistia no envio de um vídeo com a criação de uma música para a letra “Alguém” do vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto.

Hytalo já havia musicado alguns poemas dos amigos Vivaldo Simão e Edilberto Villa Nova. Mas não tinha participado ainda de uma prêmio tão influente como esse. Através de campanhas diárias em redes sociais como Orkut e MSN, o artista conseguiu cerca de 20.700 votos. Hytalo não ganhou o prêmio, mas ficou classificado em 6° lugar entre os 468 candidatos em todo o Brasil.

Os votos recebidos por Hytalo não foram apenas de oeirense, mas de gente de todo o Brasil. Luciana afirma que em Oeiras teria mais reconhecimento se viesse de fora. “Os artistas da terra “não merecem” um camarim, águia fria no placo e cachê digno”, declara Luciana.

Oeiras, terra de inegável talento nas mais diversas experiências, deve voltar-se ao presente, e louvar os artistas da atualidade. Vivaldo, Hytalo e Luciana, entre outros artistas, caminham para o sucesso, e a única coisa que falta é conhecimento do público para que eles não passem como pessoas invisíveis.
                                                                                             
Paula Carvalho é acadêmica do curso de Comunicação Social .: Jornalismo da Univesidade Estadual do Piauí.

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