Uma vida dedicada à educação

40 anos de magistério e nenhum de reconhecimento. Conheça a história esquecida de Dona Antonia, pioneira na educação em SJC

Por Talita Fontes
Especial para o CN1

Vida de professor não é fácil. Que o diga a senhora Antonia Maria de Lima, pioneira na educação na cidade de São João da Canabrava-PI, que exerceu a profissão como um sacerdócio por mais de 40 anos e hoje se quer é lembrada pela própria comunidade que ajudou a construir.


Filha primogênita de Francisco Antonio de Sousa e Maria Raimunda de Sousa, dona Antonia de Lino, como é conhecida, nasceu no dia 19 de abril 1940 na localidade “Malhada Vermelha”, município de São João da Canabrava.

PROFESSORA Antonia Maria de Lima, educadora, mãe e amiga
De infância pobre e sem muitas perspectivas, dona Antonia desde criança sonhava em ser professora. Naquele tempo a educação era menos acessível do que hoje, pois na maioria das vezes as escolas, isso é quando existiam, eram particulares e não estavam entre as prioridades da família, a visão da época consistia basicamente: “vou criar meus filhos trabalhando na roça, pois foi assim que fui criado”.
O primeiro contato de dona Antonia com “as letras” aconteceu aos 7 anos de idade em uma escola municipal na fazenda Malhada em Bocaina. Com orgulho e nostalgia dona Antonia conta que “foram quatro meses de sala de aula para que eu me alfabetizasse e em apenas quatro dias eu aprendi o alfabeto e formar sílabas”. 

A carta salvadora

Depois de alfabetizada, não havia mais como dar continuidade aos estudos naquele interior.  Contudo ela não se conformava com a situação e queria continuar os estudandos. Um dia seu pai pediu-lhe que escrevesse uma carta para o senhor Venâncio Holanda, avô e padrinho de dona Antonia, que morava em Picos.  Na carta havia informações da família e pedia que o seu Venâncio mandasse noticias.
Ao ler a carta o avô de dona Antonia ficara impressionado com o fato de sua neta de apenas 8 anos de idade já está escrevendo cartas e com tamanha maestria. Admirado com a neta, seu Venâncio resolveu investir nos estudos da afilhada. Dona Antonia na época muito contente, deixou sua família e passou a morar com seus avós na cidade de picos.
Passou a estudar no Instituto Monsenhor Hipólito (IMH), onde ingressou no primário. Nos testes na escola se destacou e chegou a cursar duas séries em um ano; ganhou medalhas de destaque de melhor aluna, e em 4 anos de estudo chegou a cursar em 6 séries, concluindo o ensino básico.
Após o falecimento da sua avó materna, a senhora Raimunda Maria de Sousa, dona Antonia teve que voltar para a casa de seus pais, já que não tinha mais com quem ficar em Picos. Passou três anos morando com os pais e contratada pelo município de Picos começou a lecionar na fazenda Bocaina, o seu primeiro trabalho como professora.
Ao completar dezoito anos, dona Antonia inconformada por não ter concluído seus estudos, queria voltar para Picos, contudo a pobreza de seus pais não permitia isso. “meu pai disse que não iria vender uma roça para botar um filho na escola, ia plantar aonde? Na roça dos outros!”, lamentou dona Antonia.

O convento

O fato de querer continuar os estudos e ao mesmo tempo a sua família não poder arcar com os mesmos, fez com que dona Antonia tomasse uma decisão importante, resolvera ser freira, pois só assim teria como estudar de graça no convento. Nos tempos de IMH dona Antonia ficara muita amiga das freiras e esse contato facilitou a sua entrada no convento.
“eu disse para as irmãs que queria ser mesmo era freira, não queria continuar morando no interior. Para mim era a coisa mais linda desse mundo era ser freira” relembra a professora.
As freiras resolveram encaminhá-la a um convento em Floriano, onde morou por quatro anos estudando como bolsista. Dona Antonia não chegou a concluir o ultimo ano do ginásio, atual ensino médio, e também não se tornou freira, pois durante suas férias conheceu um rapaz chamado Expedito Joaquim de Sousa, pelo qual se apaixonou e saiu do convento. Dona Antonia chegou a se noivar com Expedito e marcar a data do casamento, mas a união não se concluiu e dois anos mais tarde a professora casara com Lino Manuel de Lima e dessa união tiveram três filhas: Lúcia de Fátima Lima, Alaisia Maria Lima e Maria Zélia de Sousa Lima.

1962: Canabrava ganha sua primeira professora

Em 1962 algumas famílias canabravenses se reuniram para solicitar ao deputado estadual Helvídio Nunes um contrato para que e Canabrava se criasse uma escola. O contrato foi assinado em 17 de setembro de 1962 e no dia 1 de outubro do mesmo ano dona Antonia começara a dar aulas na casa de Luzia Bitonho. A primeira turma era composta por 28 alunos.
Em 40 anos de magistério várias e várias gerações de canabravenses foram educados pelas aulas e conselhos de dona Antonia. Durante esse tempo lições e valores foram repassadas sempre pautados nos valores cristãos.

"o professor de hoje não tem compromisso com a educação, visa apenas o salário" lamenta dona Antonia.

Atualmente ela divide a educação em dois aspectos; um positivo e um negativo. O lado bom da educação para dona Antonia é que: “hoje está mais fácil de estudar e tem muita gente se formando, o que no meu tempo não era assim”.

Como aspecto negativo ela destaca que o professor de hoje não tem compromisso com a educação e visa apenas o salário no fim do mês. “Com a preparação que os professores tem hoje penso que eles deveriam dar mais de si na busca pelo conhecimento, na construção da educação mais digna”.

Dona Antonia e ex-aluna, durante a missa de formatura
 desta.
Foram exatos 40 anos dedicados a educação e mesmo com todas essas idas e vindas e até mesmo a passagem por um convento na busca pelo aprendizado não foram suficientes para que dona Antonia recebesse o seu devido valor perante a sociedade.
Sobre esse devido reconhecimento dona Antonia diz que algumas pessoas a reconhece e a estima, contudo a maioria delas não dão o menor valor. Vida de professor não é mesmo fácil e o reconhecimento não faz parte desta profissão, mais quando se é pioneiro em alguma coisa o mínimo esperado é a valorização deste serviço prestado.


Edição: Antonio Rohca


Talita Fontes é acadêmica do curso de Comunicação Social pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI.

10 Comentários




  1. Foi uma honra ter Dona Antônia, alguém com tanta experiência na área educacional na nossa formatura.

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  2. Como já comentei em outra ocasião. Dona Antônia é digna de todos os elogios, pois ela sempre abraçou a educação com gosto e o que ela lamenta é real, os professores de hoje em sua maioria não tem dedicação, visa só o salário, e como em nosso país salário de professor é baixo, então eles se tornam cada vez mais maus profissionais.

    Anailton Sousa

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  3. É uma honra ter a Dona Antonia como minha mãe,
    sempre adimirei muito toda sua dedicação como educadora. Ela é aquela pessoa que nasceu com o dom para educar, sempre amou muito o que fazia.
    É uma pena que as pessoas não valorizam esta profissão tão bonita. Obrigada aos reponsáveis pelo blog e a repórter Talita Fontes pelo espaço e a homenagem a minha mãe.
    Lúcia de Fátima de Sousa Lima

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  4. Que história interessante essa de D. Antonia!Parabéns pela iniciativa que tiveram os responsáveis por esse resgate histórico, é bom todo o povo Canabravense conhecer verdadeiramente a história dessa grande Educadora, pois ela faz parte da vida de cada um de nós que passamos pela educação em São João da Canabrava, mesmo que não tenha sido diretamente aluno dela pórém todos nós temos na nossa vida educacional uma contribuição da D. Antonia. Parabéns D. Antonia mesmo que as pessoas não se façam reconhecer o seu valor devido, mas você é um Marco na vida de cada uma delas.
    Ass. Rubenita Freire

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  5. A HISTÓRIA DE DONA A. É EMOCIONANTE, COMO A MESMA FOI VITIMA E TESTEMUNHAS DAS DIFICULDADES EM BUSCA DO CONHECIMENTO. LAMENTAMOS QUE HOJE MUITOS ALUNOS TEM ENORMES FACILIDADES PARA O ESTUDO, E MESMO ASSIM,Ñ O VALORIZAM. QUANDO AO Ñ RECONHECIMENTO DA PROFISSÃO É LASTIMÁVEL, JÁ QUE TODOS OS PROFISSIONAIS ANTES DE CONCLUIR UMA CARREIRA BEM SUCEDIDA PASSA PELAS NOSSAS MÃOS. E PARA AQUELES PROFESSORES QUE VISAM APENAS O DINHEIRO, É UM PENA, PORQUE CEDO OU TARDE, COLHERÃO SEUS FRUTOS.

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  6. Parabens D.Antônia,um exemplo a ser seguido!

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  7. Lúcia Lima obrigada pelo elogio, mas tenho que dividí-lo com o amigo Antonio Rocha, idealizador da reportagem especial que apresentei na disciplina de Jornalismo Especializado em 2010.

    Talita Fontes

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  8. Nossa , foi uma emoção ler essa materia , parabéns de verdade , são pessoas assim que nos dão esperanças de um mundo melhor

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  9. Dona Antônia, Parabéns, por toda a garra e dedicação


    Adailton
    17/02/2011

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  10. MINHA MESTRA QUERIDA, TENHO MUITO ORGULHO DE TER SIDO ALUNA DA PROFESSORA ANTÔNIA ELA MERECE TODAS AS HOMENAGENS POSSÍVEIS. ESTAR NO CORAÇÃO DE MUITOS CANABRAVENSES, AGRADEÇO MUITO DO QUE SOU A ESTA MULHER GUERREIRA GRANDE EXEMPLO A SER SEGUIDO

    EVA LEAL

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